sexta-feira, 9 de outubro de 2009

OS MASCATES

Logo que o Distrito de Dores do Patusca aumentou a produção nas indústrias e a formação de estoque,  tiveram a ideia de enviar seus produtos para fora, afim de vender e trazer renda para o lugar. Assim, surgem os Mascates ou Tropeiros no Distrito de Dores do Patusca. 



Os primeiros passos foram organizar tropas e comitivas. O Mascate, ou o chefe da comitiva, se preparava na organização com algumas semanas antes da partida. Pelo sistema de consignação, adquiriam as mercadorias para venda diretamente às fazendas. Eram diversas as mercadorias (montarias, arreios para carroça, cangalhas, acessórios, botinas e etc.). A tropa, constituída de dez a doze animais (O burro de guia, que em seu caminhar, fazia tinir diversos sincerros pregados em seu peitoral, puxando os outros). Cada burro com dois grandes balaios feitos de bambu ou taquara e o último levava os apetrechos da cozinha.  





A organização da alimentação, também, preparada com antecedência pela família.  Preparava-se um porco inteiro e em meio à banha, pedaços de carne já temperados, uma forma de conservação e facilitar a preparação do almoço e jantar. Também, o pó de café, torrado e moído pelas família, já misturado o açucara mascavo faziam o café de um jeito diferente. Não levavam coador, devido a incerteza de onde iriam parar para o descanso (descansavam onde fosse mais prudente ou de acordo com a exaustão, algumas vezes até mesmo ao relento). Quando a água do café fervia, batia de leve com a parte côncava da colher (parte de baixo) e o pó, como no processo de decantação, ia para o fundo da vasilha.
Quando iniciavam a jornada, não tinham ideia da distância ou o tempo de duração. Por vezes, passavam meses e meses, até mais de um ano para a viagem  de volta. Durante o trajeto, era um trabalho árduo e muito cansativo. Manter os animais enfileirados e que muitas vezes imprevisíveis de comportamentos, (Desde o início, Lugarejo do Patusca, Dores de Campos vive e revive a atividade do Tropeirismo. Se alguém reclama de vida difícil, não conhece a vida de um tropeiro. A utilização do burro, nas comitivas das viagens, é porque é um animal mais resistente a todo tipo de terreno e distâncias, mas, cada animal é imprevisível e tem sua própria personalidade. Domesticar qualquer animal leva tempo e muito trabalho e, mesmo assim, continua de acordo com a personalidade do animal. Assim, como algumas pessoas, existe o burro que é dedicado ao trabalho e outros não e quando resolve empacar é um trabalho danado para fazê-lo movimentar, ele se senta e parece estar de birra, para não sair do lugar, mesmo levando chicotadas),   o descarregar e recarregar de mercadorias nos grandes balaios diante dos fregueses, era uma tarefa muito cansativa.
Aproveitavam o dia claro, para não perder tempo e diante de tanta peleja era necessário uma alimentação bastante calórica, porque não tinham ideia da hora que poderiam fazer outra refeição. Logo antes do amanhecer, o cozinheiro levantava mais cedo e já preparava o café, logo em seguida o almoço, acompanhado com o feijão tropeiro. Já abastecidos, rumavam logo para retomar a viagem e só ao entardecer é que fariam uma outra refeição.




Os Mascates levavam mercadorias e traziam outras, porque nem sempre conseguiam o dinheiro e faziam alguma troca de mercadoria, tais como  novidades (produtos têxteis, perfumes e etc.). Também, notícias do Brasil e Estados. Na volta e já nas proximidades do Distrito de Dores do Patusca, sempre havia alguém para avisar as famílias. As famílias e amigos, já organizavam festas para recebê-los. A alegria era total e recebidos até com músicas.   

Depois do descanso da viagem percorriam as indústrias e comércio, para fazerem os acertos de contas das mercadorias e produtos que a família comprava, para suprir as necessidades domésticas durante a ausência do tropeiro. Feito os acertos, já era passado os novos pedidos de mercadoria, que mais uns dois ou três meses sairiam para uma nova viagem. Enquanto isso, aproveitavam o tempo e usar as tropas para a busca de lenhas para as famílias, que aproveitavam para fazerem um bom estoque e ganharem algum dinheiro. A lenha era o combustível necessário para a cozinha. Os familiares já iam também se preparando  para a próxima viagem. 

Em um cômodo, denominado de "dispensa", iam repondo o estoque da alimentação doméstica e fazendo a reserva para a viagem. O toucinho, já temperado era pendurado numa espécie de varal em cima do fogão de lenha. Local adequado por causa da caloria e a fumaça que impedia a aproximação das moscas e formigas. 
Também, era costumeira a reunião da família e até amigos na cozinha. Principalmente em noites frias, que aproveitavam o calorzinho do fogão de lenha, para uma boa refeição e colocar as conversas em dia até à hora de se deitarem. Além do bate papo acontecia algumas rodinhas de violas, que eram momentos de boa diversão e descontração até o sono chegar
Um dos últimos a exercer essa atividade, foi o Sr. José Praxedes Coimbra (Ieié), filho de Duquinha. 

Senhor José Praxedes Coimbra, à direita e montado a cavalo

O Sr. José Praxedes, casado com Dona Marly Assunção Praxedes, tiveram dois filhos: Maria de Fátima Praxedes e José Vicente Praxedes, que é autor de um livro "A saga dos Tropeiros da Terra da Figueira Encantada"

José Vicente Praxedes disse em seu livro uma grande verdade a esses heróis; "Honra, Palavra, Educação e Trabalho, construíram o mundo do Tropeiro".

Uma justa homenagem aos Tropeiros, aconteceu na primeira FAIDEC (Feira de Artesanato e Indústria de Dores de Campos), em 1983. Onde faziam-se a comida típica dos tropeiros.


Estes representantes dos Tropeiros(da direita para esquerda), conhecidos como:

    Geraldo Pestanhudo, Siley, Badalada, Laudir, Chiquinho e Tibarro. 

Dores de Campos não possui em sua área territorial nenhuma extração mineral e sempre viveu da economia voltada para os trabalhos do couro. A população, cerca de 70%, sempre teve como rendimento proveniente do emprego nas empresas de manufatura do couro. Curtumes, Selarias, trabalhos no âmbito doméstico. Enfim, a economia familiar é gerada pelos trabalhos artesanal do couro. 

O título Mascates, ou Tropeiros acabou e ficando somente na história. Não se usa mais tropas para escoamento da produção, dando lugar aos Representantes das empresas e que também já está acabando. As construções de lojas, onde são expostas a produção está se tornando em grande número e dando uma nova forma de comercialização das Selas e acessórios, onde acontece a venda direta para o visitante e até através da internet, que já é habitual a venda dos produtos para o Brasil e exterior. 


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(*) A história dos Tropeiros sempre poderá haver alguma atualização. Aguardo autorização, para postagens de fotos e vídeos. 



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